E
acaba-se a história de Tito Tassus. Ao menos por enquanto.
Dentre
os três livros da trilogia, “No lugar de meu pai, eu” foi o meu favorito. Assim
como no primeiro livro, Belão usa da narrativa de maneira linear. E diferente
do primeiro livro, este toca você em uma profundidade nova.
O avô
de Tito morreu. A idade o alcançou e o patriarca da família Tassus se foi. O
livro começa nos mostrando Tito resolvendo o que se deve resolver para que o
velório e o enterro possam acontecer. Complicações legais e blábláblá. Tudo
aquilo do qual não precisamos no momento em que alguém próximo – no caso, o
herói de Tito, presente desde Vitrine de Sonhos – se vai. Lembro de Felipe, o
autor, me falando que eu gostaria bastante do final do livro, pois ele havia
adorado escrevê-lo. Eu não vou tirar crédito algum disso, o final é com toda a
certeza muito bom. Mas não tem como eu ter gostado mais dele do que do velório.
Ao menos da maneira mais respeitosa da qual se pode gostar de um velório. Mas
já chego lá, calma.
Destaque pra essa capa linda, feita por Marcos Santiago Delacoletta |
O livro
nos conduz pelo luto de Tito, o modo como o já-não-tão-garoto enfrenta a perda
de seu herói, cheio de tristeza e melancolia. É só sobre isso que o livro fala
até a metade dele. Sério, exatamente metade. E é incrível a fidelidade que essa
metade do livro tem para com os sentimentos de alguém que perdeu uma pessoa
especial. Incrível.
A outra
metade nos fala de três outras coisas.
A
primeira, ainda focada no luto pela perda do avô, fala sobre a superação da
perda. O seguir em frente. A segunda nos fala sobre o tal pai. O pai de Tito. É
bonito. Tocante, sim. E a terceira, nas últimas cinco páginas, nos revela o que
qualquer um que prestou alguma atenção no livro sabe. Mas bons livros nos
contam aquilo que já sabemos, não é, Winston?
Eu
tenho que falar agora, com mais detalhes, sobre o primeiro capítulo. Você pode
pular para o final da resenha se quiser, eu vou falar um pouquinho de mim mesmo
agora. Mas eu recomendo que leia.
Quando
eu tinha dez anos de idade meu pai morreu. Não é segredo pra ninguém que me conhece
um pouquinho. E na verdade, depois de dez anos sem ele, isso não me incomoda.
Incomodou muito pouco desde que aconteceu, na verdade. A maior parte da minha
vida eu passei sem meu pai.
Depois
que meu pai morreu eu virei uma pedra com a morte. Eu e minha irmã. No velório,
nenhum de nós derramou lágrima. Meu irmão também não, mas ele era jovem demais
pra entender bem o que acontecia. Eu e minha irmã tomamos... Ahn... Gosto pelo
mórbido. Se vocês leram o que eu escrevi em contos e livros, sabem disso. Se
leram e não sabem, agora devem ter ligado os pontos. Se machuque na minha
frente e eu vou te ajudar, vou me preocupar. Só tente não morrer na minha
frente. Nesse ponto eu já deixei de ligar. E evite morrer na frente da minha
irmã. Ela é pior do que eu. Ela vai te dar um tapa. Ela tem vontade de dar um
tapa em alguém morto pra saber o que acontece.
A morte
do meu pai mudou drasticamente a maneira como vejo a vida em si. E permitiu que
a cada velório que eu presenciei, eu pudesse observar de perto coisas que a
tristeza costuma encobrir.
Eu vi a
tristeza rasgar corações em velórios. Vi cheiro de morte contaminar as pessoas
e me cumprimentar no caminho. E eu vi o quão isso é triste. Mas já dizia uma
música que gosta de grudar na cabeça até ficar irritante, quanto mais triste
mais bonito soa. Velórios têm muita beleza. É só saber enxergar. E foi esse
tipo de beleza – a beleza triste, a beleza das lágrimas, a beleza que só um
anjo pode mostrar. Nem que seja o anjo da morte – que o primeiro capítulo desse
livro me mostrou. A despedida de um grande homem e como sua falta se fez nas
pessoas que viviam ao seu redor. Eu pude sentir
a morte nesse livro, “apenas” pela descrição do velório. Eu pude entender
como alguém se sente quando o cheiro de morte o envolve ao invés de acenar ao
longe. E isso é uma experiência que eu não acho que eu vá ter tão cedo. Eu
agradeço ao Felipe por isso.
Mas a
vida continua – eu sei bem disso – e as coisas acontecem. Oportunidades surgem,
chances aparecem, escolhas são feitas. E nós temos de arcar com tudo que elas
nos trazem. Todos os desprazeres e prazeres que as escolhas nos dá. É assim que
se vive. Não tem tanto mistério. Ao menos na teoria. Há algum tempo eu não
coloco uma citação de livros resenhados, mas aqui vai uma que merece destaque.
“[...] Tomo o lugar do meu Herói e do meu pai. Sou homem e não apenas filho. Sou agora pai e Herói do filho que ainda não nasceu. Mundão velho, me receba. Mundão novo, nós te criaremos.”
Páginas: 126
Editora: InVerso
CDD: B869.35 (Eu não achei o ISBN no livro, pessoas. Poxa, eu gosto tanto do ISBN).
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