Só o que ele sabia era que ele a havia matado. Ele nem tinha certeza do porquê. Talvez... Talvez tivesse sido o calor do momento, não é? Um pouco de raiva, uma briga mais exaltada em uma casa de campo rodeada de árvores, o stress das brigas constantes... Talvez ele tenha perdido o controle. Ele não se lembrava. Sabia também que a sujeira embaixo de suas unhas tinha a mesma cor do líquido que havia manchado o tapete sobre o qual ela estava, sem se mexer. Era uma moça bonita. Os cabelos de um ruivo escuro que mal era distinguível do castanho na meia-luz estavam sujos de sangue, mas o rosto parecia sereno. Os olhos estavam fechados. As sardas eram leves e dava, um tom de inocência à mulher.
"Será que ela seria inocente? Eu não mataria ela por nada...", ele pensava. Faz sentido, não faz? Ele não teria matado a garota sem motivo. Ela provavelmente havia feito algo de errado, certo? Ele não era um monstro, certo?... Certo?...
Uma risada ecoou. Ele olhou para a janela e conseguiu distinguir a sombra de... Alguém. Ele afastou a cortina a tempo de ver as crianças correndo. Duas delas. Pareciam rir, correndo para longe da casa como quem foi pego bisbilhotando e tinha de sair de lá.
"Emily, eram só crianças." Gritou ele para a esposa na sala. Ele sabia que o barulho que eles ouviram não era nada demais.
"Sobre o lago, podemos ir lá ama-", a voz dele travou na garganta. Emily estava morta no tapete. Ele olhou para o vermelho já seco em suas mãos. O cheiro de carne podre era forte, mas ele não sentia. Talvez ele também estivesse com muita fome, mas não sentia. Há quantos dias ele estaria lá? Ele não sabia. Ele também não sabia quantas vezes as "crianças" haviam voltado para rir dele.
Só o que ele sabia era que ele a havia matado. Ele nem tinha certeza do porquê. Talvez... Talvez tivesse sido o calor do momento...
quarta-feira, 6 de agosto de 2014
terça-feira, 22 de julho de 2014
Resenha: A Sombra do Vento - Carlos Ruiz Zafón
Eu amo esse cara.Dificilmente eu ligo a obra ao autor. Pelo nome, dificilmente eu vou lembrar de algum. Você tem que me dizer algo como "É aquele cara que escreveu tal livro", e então eu vou ter certeza de quais livros Kafka escreveu. Não é exagero, eu conheço a obra, não o autor. Mas o Zafón é uma exceção.
O primeiro livro dele que li se chamava "Marina". Talvez eu releia ele algum dia pra fazer resenha. Lembro que achei a capa bonitinha, e tinha o nome de uma amiga minha. Eu li na capa que era do autor de "A Sombra do Vento", livro que essa Marina, amiga minha, já tinha me recomendado. Então eu comprei e me apaixonei pelo livro.
Só um ou dois anos depois eu comprei "A Sombra do Vento", junto com os outros dois da coleção "Cemitério dos Livros Esquecidos". Vou resenhar os outros dois um dia desses. Mas vamos à Sombra, e ao que me deu a certeza de que eu vou ligar esse autor a livros incríveis, sim?
O primeiro livro dele que li se chamava "Marina". Talvez eu releia ele algum dia pra fazer resenha. Lembro que achei a capa bonitinha, e tinha o nome de uma amiga minha. Eu li na capa que era do autor de "A Sombra do Vento", livro que essa Marina, amiga minha, já tinha me recomendado. Então eu comprei e me apaixonei pelo livro.
Só um ou dois anos depois eu comprei "A Sombra do Vento", junto com os outros dois da coleção "Cemitério dos Livros Esquecidos". Vou resenhar os outros dois um dia desses. Mas vamos à Sombra, e ao que me deu a certeza de que eu vou ligar esse autor a livros incríveis, sim?
quinta-feira, 12 de junho de 2014
Hora do Conto: Grunhido
Eles batiam na
porta insistentemente. Ellen podia ouvir os grunhidos e o barulho penetrava na
mente dela; Aquele som trazia apenas uma mensagem: Você vai morrer.
Desde que ela
vira um zumbi de verdade pela primeira vez já fazia dois anos. Ellen lembrava bem
de ter se assustado quando viu o filho de doze anos de seu vizinho com aquela
quantidade de sangue escorrendo pelo cabelo e descendo pelo rosto até o peito.
Ela ficara desesperada e quase gritara por ajuda. Foi quando ouviu o grunhido
pela primeira vez. Ela se lembrava do tom agudo de voz de criança que agora
assombrava seus pesadelos, mas que no dia causou alívio.
— Guilherme, que
susto que você me deu!
Ela riu nervosa
da brincadeira do garoto e ele respondeu com mais um grunhido, dando outro
passo manco na direção dela, os olhos esbranquiçados e vidrados. O sorriso saiu
do rosto dela enquanto a duvida sobre se aquilo era uma maquiagem muito bem
feita ou se era real pairavam sobre a mente dela. A negação a atingiu primeiro.
Era óbvio que a maquiagem havia sido muito bem feita... Certo?
Mais um grunhido,
um pouco mais forte. A partir desse ponto o medo voltou a tocar seu coração e a
adrenalina subiu uma vez mais, pegando carona em seu sangue e fazendo-a reparar
em mais coisas do que ela costumava reparar.
quinta-feira, 22 de maio de 2014
Resenha: No lugar de meu pai, eu - Felipe Belão
E
acaba-se a história de Tito Tassus. Ao menos por enquanto.
Dentre
os três livros da trilogia, “No lugar de meu pai, eu” foi o meu favorito. Assim
como no primeiro livro, Belão usa da narrativa de maneira linear. E diferente
do primeiro livro, este toca você em uma profundidade nova.
O avô
de Tito morreu. A idade o alcançou e o patriarca da família Tassus se foi. O
livro começa nos mostrando Tito resolvendo o que se deve resolver para que o
velório e o enterro possam acontecer. Complicações legais e blábláblá. Tudo
aquilo do qual não precisamos no momento em que alguém próximo – no caso, o
herói de Tito, presente desde Vitrine de Sonhos – se vai. Lembro de Felipe, o
autor, me falando que eu gostaria bastante do final do livro, pois ele havia
adorado escrevê-lo. Eu não vou tirar crédito algum disso, o final é com toda a
certeza muito bom. Mas não tem como eu ter gostado mais dele do que do velório.
Ao menos da maneira mais respeitosa da qual se pode gostar de um velório. Mas
já chego lá, calma.
Destaque pra essa capa linda, feita por Marcos Santiago Delacoletta |
quarta-feira, 30 de abril de 2014
Resenha: Monólogos de Menino - Felipe Belão
Pode-se
dizer que o segundo livro sobre a vida de Tito Tassus começou a me surpreender
assim que pus os olhos nele. Bem mais curto do que seu irmão mais velho Vitrine
de Sonhos, Monólogos de Menino é de certa forma o oposto do primeiro. Diferente
do anterior, os detalhes, agora, são deixados de lado. O livro me deu a
impressão de diário. Um diário extremamente espaçado, é claro.
Cada
capítulo – pouquíssimos deles com mais de duas páginas – começa com uma data,
que vai de vinte e sete de setembro de 2005 até seis de setembro e 2007. Ao
longo destes dois anos, acompanhamentos os pensamentos e sentimentos de Tito,
tudo bastante confuso, como algo escrito para si mesmo, algo que você acredita
que vai entender com perfeição quando ler novamente. Tito nos mostra em seu
“diário” como anda sua vida, como ele se sente depois de muita coisa ter
acontecido, ele nos mostra seu mundo imaginário e como imagina o mundo nosso
mundo. É bonito. Eu gostei bastante, principalmente, das pequenas conversas de
Tito com o leitor e provavelmente com o próprio escritor. No primeiro livro, quando
Tito falava para quem lia, o que eu via eram pensamentos que o autor queria
imprimir no personagem. Já neste livro, quando Tito fala, eu vejo um personagem
falando com seu criador e suas testemunhas.
Não existe história dessa vez. Existe no primeiro livro, mas aqui não. Nada explícito, ao menos. Novamente
é um livro muito reflexivo. Difícil de falar sobre ele. Eu imagino que ele seja
composto de fragmentos do diário do personagem do primeiro livro, tentando nos
contar sobre uma época em que pouco acontece, mas muito se cresce. Eu vou logo
começar o terceiro e último livro da trilogia de Tassus. De acordo com o autor,
eu provavelmente vou gostar bastante do livro.
Ficou uma resenha bem curtinha essa daqui, não é?
Páginas: 95
Editora: InVerso
ISBN: 978-85-62266-24-9
sexta-feira, 25 de abril de 2014
Resenha: Vitrine de Sonhos - Felipe Belão
Tito Tassus resolve escrever sua própria vida. Ele abandona
os medos. Abandona os sonhos. Apenas usando de suas incríveis memórias e sua
imaginação voluptuosa, Tito Tassus resolve escrever sua própria vida.
Tito Tassus enfrenta um problema. Ele não sabe como começar
a escrever. Ele não tem a inspiração necessária para isso. Ele acaba de se
formar como publicitário, está desempregado e não sabe como começar seu livro.
Então Tito Tassus conhece Maria Eduarda.
A história se desenrola para o relacionamento de Tito Tassus
(sim, ele sempre se apresenta com o nome inteiro) e Maria Eduarda, que se
inicia depois de três encontros que parecem ter sido obra do destino, e como a garota inspira nosso herói. É uma
história bonitinha. Mas não é sobre ela que o livro fala. Ao menos, não só
sobre ela.
domingo, 16 de março de 2014
Resenha: 1984 - George Orwell
E aqui temos um dos meus livros favoritos.
Oceânia. Uma grande nação que divide o mundo com outras duas, a Lestásia e a Eurásia. E as três nações vivem em guerra, na tentativa de dominar o mundo todo.
Na Oceânia vive Winston Smith, um funcionário do Partido, regido este pelo Grande Irmão, que está sempre de olho em você. Winston acha estranho o mundo em que vive, sempre na beira da miséria, por mais que as notícias sempre digam que tudo está melhor do que nos anos anteriores, sempre vivendo com o básico e sofrendo para comprar simples lâminas de barbear, mas de acordo com o governo, com o Partido, tudo está indo bem. Então Winston comete um crime. Ele pensa algo que o partido não quer que ele pense. Ele quer saber o "Por quê".
Oceânia. Uma grande nação que divide o mundo com outras duas, a Lestásia e a Eurásia. E as três nações vivem em guerra, na tentativa de dominar o mundo todo.
Na Oceânia vive Winston Smith, um funcionário do Partido, regido este pelo Grande Irmão, que está sempre de olho em você. Winston acha estranho o mundo em que vive, sempre na beira da miséria, por mais que as notícias sempre digam que tudo está melhor do que nos anos anteriores, sempre vivendo com o básico e sofrendo para comprar simples lâminas de barbear, mas de acordo com o governo, com o Partido, tudo está indo bem. Então Winston comete um crime. Ele pensa algo que o partido não quer que ele pense. Ele quer saber o "Por quê".
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